Há muito que formam esquecidos muitas das heroínas da chamada “canção de intervenção”. O
Menta Pimenta vem lembrar e relembrar algumas dessas mulheres que povoam a memória colectiva de um povo que não pode esquecer as suas mães ideológicas, que deram o corpo ao manifesto em prol do seu semelhante, sem pedir nada em troca.
Muitas dessas heroínas nunca foram devidamente valorizadas, mas é para isso que cá estamos.
Maria Armanda – a pequenina cantora, de tenra idade e baixa estatura, mas com um sentido humano e um altruísmo desmedido interveio na nossa sociedade com uma canção inesquecível, quem não se lembra de “Eu vi um sapo”? Para muitos era mais uma canção, mas para os mais atentos era uma canção de luta e protesto contra o sistema instalado e que abalava as mais altas esferas da nossa sociedade de então. Relembremos alerta: “Eu vi um sapo, um grande sapo. Tudo comeu nada me deu” – uma clara alusão às condições de vida em que o povo português vivia, o sapo simbolizava o governo da altura, com Mário Soares à cabeça.
Suzy Paula – esta brava mulher, de roupas de couro e napa às cores, trouxe ao povo português um raio de luz sobre as suas vidas com a sua canção “O Areias”. Também aqui existe uma mensagem subjacente que atacava com unhas e dentes o sistema político. A recordarmos algumas das linhas de pensamento da autora veremos que a mensagem estava lá, só não a via quem não queria. “ O Areias é um camelo, com duas bossas e muito pelo.” , aqui está presente uma alusão à travessia do deserto que se verificava na altura, o camelo era novamente a personificação de Mário Soares.
Manuela Bravo – A, talvez, mais desconhecida das heroínas portuguesas, foi também a mais corajosa lutadora pelos direitos dos português. Numa altura de pós revolução, em que a instabilidade reinava, ela teve a coragem de alertar para o problema da emigração, e da inflação do nosso país.
“Sobe, sobe balão sobe. Vai dizer àquela estrela se me deixe lá viver e morar. Levo o meu amor comigo, pois eu sei que encontrei, o lugar ideal para amar.” A jovem, na altura, cantora afirmava em voz alta que se o balão, Portugal, não subisse ela teria de emigrar, levando com ela o seu companheiro.
Todas as três bravas e pertinentes cantoras lutaram pela nossa liberdade e pelos nossos direitos, e pagaram um preço elevado por isso. Após diversos inquéritos e pesquisas levadas a cabo, só havia uma conclusão: as três desapareceram sem deixar rasto. O governo português tem uma culpa que não pode morrer solteira, nem ficar soterrada pelo esquecimento nacional. O caso será levado até às ultimas consequências, doa a quem doer.